POR QUE PLANTAR IGREJA?

Pr Jonathas Diniz

De todos os argumentos possíveis, o mais elementar e objetivo de todos pode ser assim sintetizado: plantar igrejas é bíblico, portanto necessário e abençoado por Deus. Os fundamentos bíblicos para a plantação de igrejas são tão claros que ao invés de se perguntar “Por que plantar uma igreja?”, a pergunta ideal seria: “Por que não plantar uma igreja?”.
Há velhas críticas que não se sustentam biblicamente diante dessa nobre missão. Dentre elas, destacamos: “Mas já existem muitas igrejas na cidade!”; “Para que mais igrejas? Isso é desunião e divisão do corpo de Cristo!”; “Já que se quer plantar novas igrejas, por que não fazem isso na África?”.
Em resposta a essas posturas de desconfiança, defendemos que plantar novas igrejas bíblicas é uma ação em obediência ao chamado essencial de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em Mateus 28.18-20, os discípulos são instruídos a batizar novos discípulos. E batismo é a incorporação daquele que creu na pregação do Evangelho à uma comunidade de adoração (At 2.41). Acerca do crescimento da jovem igreja no livro de Atos, Lucas registra: “E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos” (At 2.47). Esse é o padrão de trabalho, o “método” de Cristo na expansão de Seu Reino. Sobre esse texto, John Stott nos traz um brilhante comentário: “O Senhor não os adiciona à igreja sem salvá-los, e Ele não os salvava sem adicioná-los à igreja. Salvação e filiação à igreja andavam juntas e ainda caminham assim” (STOTT, 1994, p.42).
Lendo o livro de Atos, parece razoável afirmar que o apóstolo Paulo baseou toda a sua estratégia ministerial na plantação de novas igrejas. Por onde ele passava em suas viagens missionárias deixava igrejas estabelecidas e as confiava a líderes idôneos (At 16.11-15; Rm 15.19; Tt 1.5). Ao escrever sobre o resgate da teologia bíblica da evangelização, Augustus Nicodemus vai tomar como exemplo o apóstolo aos gentios:

[...] em menos de 10 anos de atividades, provavelmente entre o ano 47 e 57 A.D., ele plantou igreja nas quatro províncias do império (Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia), e no final, escrevendo aos romanos, ele diz: “eu já não tenho campo de ação aqui nestas regiões”. Tomando somente Paulo como exemplo, sem mencionar o trabalho dos outros missionários, apóstolos, evangelistas; em pouco tempo a igreja católica evangelizou o mundo conhecido.

E por que os apóstolos tinham essa preocupação de, ao chegarem em uma cidade, organizar e fundar uma igreja? O que estava por detrás da motivação que impulsionou essa práxis missionária da igreja primitiva e que serve de parâmetro para o trabalho atual de plantação de igrejas? Nicodemus responde:

Exatamente por isso, porque tinham essa visão do que era a igreja local dentro do plano geral de Deus. A igreja local não é apenas um local gostoso onde nos reunimos com nossos irmãos aos domingos, pra cantar uns hinos, ouvir a Palavra, fazer uma reflexão, é muito mais do que isso, falando da igreja local como expressão do corpo de Cristo, da plenitude de Cristo. Dentro da teologia neotestamentária de missões, a igreja local está no centro e representa uma parte crucial [...]porque é a nova humanidade que foi inaugurada por Cristo Jesus, em contraste com a velha humanidade encabeçada por Adão. Cristo veio começar um novo povo. O povo escatológico, povo de Deus, que tem expressão nas comunidades locais, isto não pode ficar de fora, quando estamos planejando fazer missões, plantar igrejas que se envolvam no trabalho missionário, porque não é apenas uma questão de estratégia, mas também de teologia bíblica e que a igreja faça parte disso.


De uma perspectiva bíblica neotestamentária não resta dúvidas de que os apóstolos enxergavam a plantação de igrejas de modo teológico e não pragmático. A missão partia de uma certeza de que era através da proclamação das boas novas e do estabelecimento de igrejas locais, que a edificação do corpo de Cristo haveria de acontecer, tanto no sentido da expansão, no crescimento, adesão de novos membros, como edificação dos que estavam ali; e era pela mensagem do evangelho que Deus haveria de reunir os gentios e o remanesceste fiel (Ef 4.2; 1Co 3.5-9; Rm 15.18-19). Nicodemus prossegue em sua reflexão sobre a motivação apostólica:

[...] não é questão de estratégia e de método, é questão de teologia. Deus leva avante seu Reino através de homens e mulheres que Ele levantou e capacitou e que anunciam a chegada do Reino de Deus, esse é o método que encontramos. Paulo não conhece nenhum outro (I Coríntios 2:10). Neste sentido ele se via como pregador, mestre e onde ele chegava com os demais apóstolos, organizava os convertidos em comunidades, batizava-os, elegia presbíteros, supervisionava por um tempo, isso é o que você vê no Novo Testamento, que a missão e a evangelização se centram na fundação de igreja, criar novas igrejas, a igreja vista como sendo a expressão concreta desse novo povo, a nova humanidade em Cristo Jesus.

Estamos convencidos de que a plantação de novas igrejas não está baseada em análise sociológica ou demanda mercadológica, mas em convicção teológica: quem Deus é e o que Ele está fazendo na história através de seu povo universal que se expressa em comunidades locais. Nesse trabalho somos apenas cooperadores. A Igreja é missão de Deus. Nosso trabalho é apenas pregar integral e expositivamente a Palavra e ministrar fielmente as ordenanças.
 Muitas igrejas nascem todos os dias em diversos lugares. Mas o quadro não é tão animador quanto deveria. Apostasia, nominalismo, pragmatismo mercadológico, modismos, o modelo coaching de pregação, o relativismo moral, a superficialidade bíblica e doutrinária, o liberalismo teológico, o sincretismo, o legalismo, a corrupção da liderança, dentre outros, são problemas muito presentes em grande parte delas. Por isso, igrejas bíblicas e doutrinariamente sérias são urgentes. Deus é glorificado quando pecadores se arrependem de seus pecados e se voltam para Cristo, através da pregação fiel das Escrituras.
  

Referências:

LOPES, Augustus Nicodemus. Restaurando a Teologia da Evangelização. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/evangelismo/teologia_evangelizacao.htm. Acesso em: Dezembro de 2019.

STOTT, John. A Mensagem de Atos. São Paulo: ABU Editora, 1994.


Comentários

Postar um comentário